quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A favela que cresci e suas histórias



Animei contar um pouco da minha história e acho interessante o blog para esse fim, já que ele será algo como um arquivo que quando eu quiser acessar estará disponível para ver onde quiser e quem sabe não revele para algum familiar antes de partir.


Lembro-me quando tinha entre 4 ou 5 anos de idade, morávamos meu pai minha mãe e eu em uma casa simples que meu pai construiu em meio lote que conseguiu comprar com a herança de meu avô, que nunca conheci.


A localização em termos de proximidade da área comercial/urbano era excelente, contudo a nossa casa era a última de uma rua sem saída e por azar o muro que delimitava a área dava acesso ao beco de uma favela.


Além disso, a alguns metros a frente passava um córrego com o esgoto de toda a cidade, as imundices que desciam daquele local era inexplicáveis e perdi às vezes de quantos ratos visualizei andando tranquilamente em cima das casas e dos muros das residências vizinhas.


Com apenas 5 anos de idade já vi pessoas sendo esfaqueados, homens correndo da polícia e levando tiros, pessoas desconhecidas pulando no meu quintal e ganhando outras casas com o fim de despistar os milicianos que estavam em sua captura.


Recordo que um dia estava brincando no passeio de casa com alguns carrinhos e um punhado de areia que tinha na calçada quando percebi uma gritaria tremenda a umas 5 casas para cima da minha. Não sei ao certo o que a imagem que vi significada, porém consigo discernir exatamente qual foi a minha reação ao ver um homem segurando o braço para não cair do corpo e atrás outro homem correndo com um facão a mão, e o pior no fundo da imagem havia uma mulher com aqueles bob’s de cabelo igual à dona Florinda e vestida apenas com uma toalha. Toda a cena era pintada de vermelho, desde os passos que se iniciaram na porta daquela casa até os que se perderam no beco em que minha casa limitava. E diante de toda essa situação eu só conseguia rir, kkkkk, eu gargalhava com tudo aquilo, penso que fiz alguma analogia a algum programa que teria visto na televisão.


Quando meu pai ouviu os barulhos correu para me pegar e tapou meus olhos para não ver o sangue no chão – que eu vi sair do corpo vivo e quente da vitima que corria para se salvar.


No final das contas fiquei sabendo que o marido saiu para trabalhar, como de costume, e quando chegou inesperadamente encontrou o “quase sem braço” com sua esposa no maior amasso. Ato continuo ele pegou seu facão amolado que ficava próximo a um fácil local de acesso (provavelmente para usar contra ladrão) e não hesitou de desferir alguns golpes, vindo a causar várias lesões corto-contundentes.


Tatuagem

Não me esqueço de quantas vezes se reuniam pessoas mais velhas na porta da minha casa para fumar (só hoje descobri que era maconha). Eram rapazes mais velhos e de certa forma mal encarados como se diz. Minha mãe mantinha uma vigila em cima de mim quando esse pessoal estava na área, contudo eu sempre dava um jeito de sair e ver o que acontecia.


Certa vez abri o portão e um dos rapazes acredito que me cumprimentou com alguma brincadeira e eu respondi algo engraçado e todos ficaram rindo. Ali teria se formado algo como uma amizade ou pelo menos uma admiração deles comigo.



Percebia que vários possuíam tatuagens, e isso no inicio dos anos 90 era inconcebível, porém eu gostava dos desenhos e me imaginava com algumas no meu corpo. Sendo assim, um dia fui até o portão com uma caneta bic e pedi para o que imaginei que seria o mais antigo dos rapazes para que fizesse em mim uma tatuagem. Eles novamente riram até da minha cara, e atenderam o meu pedido. Lembro até hoje que por alguns dias ia novamente e pedia para fazerem e sempre que meu pai via aquilo me batia e fazia lavar na hora.


A mudança


Como falei, morávamos em uma área com saneamento urbana próximo a dos países africanos e especulava-se que passaria um viaduto bem em cima da nossa casa. Meu pai como não é bobo tratou de levantar informações e como tudo indicava que era verdade optou por vender a casa antes da desapropriação (que seria pago em um valor ínfimo).


Conseguimos comprar uma casa em um bairro distante e afastado que não possuía energia elétrica nem água encanada, contudo ficava longe da violência e do viaduto.






O bairro em que moramos até hoje na época se assemelhava mais a uma fazenda fracionada, pois por todos os lados que se olhava só via gado e árvores. Acredito que foi uma fase difícil para meus pais que estavam acostumados ao conforto de um banho de chuveiro elétrico, água encanada, geladeira e se viram em um local sem nada.


Pra mim era uma grande aventura e adorava todo aquele ambiente bucólico em que cresci, tinham vários amigos na rua e uma área incrível para se brincar.



Hoje o bairro virou algo próximo do antigo, muito valorizado e já possui certa violência, quem comprou terrenos naquela época para investir hoje está rico.




27 comentários:

  1. Sim, mas seu pai vendeu? Vai continuar a história?

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    1. Fala CF, como falei meu pai vendeu sim a casa na boca da favela e comprou a que moramos hoje, lógico que nem se parece com a que era há 25 anos atrás.

      Não pensei em continuar a história, mas já que despertou interessei provavelmente irei.


      Vlw.

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  2. Lawyer

    Legal a história, bem narrada!

    Reforço o colega : por favor dê-nós a parte 2

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  3. Grande Dr

    Que interessante, não fazia ideia do contexto da sua juventude. Faço das palavras dos colegas as minhas: continue a história!

    Abs!

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    1. Obrigado TR acho que consegui um tema fácil de escrever e que me deixa empolgado.

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  4. Fala LI,

    Conheci seu blog hoje e ja achei bem interessante esse post. Nossos pais sofreram para nos dar um futuro melhor, então devemos sempre ser gratos e agradecer.

    Da uma passada no meu, que também conto um pouco da minha historia. Vou te add na minha blogroll.

    Abraços do BnA

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    1. Obrigado colega, já visitei seu blog antes e gostei muito do conteúdo, vou de adicionar no blog tb.

      Vlw

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  5. Muito boa a sua história. Continue postando ela. Abraços do Gari.

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    1. Obrigado amigo, só achei seu nome um pouco desistimulante para você mesmo.

      Lembre a força da palavra e pensamento tem poder independentemente de crenças ou religião, falo de PNL e se auto intitular um profissional Gari não acredito que trará muito benefício.

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    2. Olá amigo depois leia minha trajetoria...Fui Gari por 6 anos e agora estou em outro concurso (ainda estágio probatorio) e tambem advogo por fora. Abraço

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    3. Entendi então foi uma superação, pensei que assim se denominou por causa do sucateamento da profissão.

      Parabéns parceiro.

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  6. Poxa, q legal. Minha infância também não foi nada fácil, mas não tinha tanta violência assim não.

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    1. Pois é Bufunfa a minha só até essa idade de 5 a 6 depois foi tranquilo nesse bairro fazenda que cresci.

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  7. Cara, me identifiquei demais com sua história. Cresci numa realidade parecida.
    Hoje moro num bairro de classe média e por eu ser branco as pessoas acham que minha vida foi fácil. Comecei a trabalhar com 17 anos. Só fiz curso pré vestibular por que trabalhei pra pagar e tive que passar no vestibular da federal. Não era opção, ou pasava na federal ou estadual ou se contentava em ser peão.
    Meu primeiro curso, adm, era pra concluir em 4, mas levei 6 anos.
    Hoje sou servidor federal e com duas formações com 33 anos.
    Quem me vê hoje não sabe 1/3 do que já passei. E hoje eu valorizo pra caralho minhas conquistas e o esforço que meus pais fizeram.

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    1. Parabéns pela Vitória o mérito realmente é todo seu. Bom ouvir relatos de amigos que compartilham o mesmo ideal e tiveram caminhos parecidos no passado.

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  8. Micro Investidor Nerd18 de agosto de 2017 às 09:52

    Fala, Lawyer!

    Legal a sua história! Como seus pais se viraram sem luz e água? Nem pra fazer uma poço com bomba hidráulica tava. Como se viravam?

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    1. Sem luz todo mundo se vira ne MIN, mas água que era foda. Passava um caminhão da prefeitura duas vezes por semana e enchiam algumas manilhas de água das residências, assim você usava tudo isso para lavar, comer, se limpar, era a vida.

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  9. Cara, antigamente, como diziam os antigos:"a coisa não era mansa". Quando vejo essa geração de agora, a maioria com os confortos de agora reclamar de tudo, me dá até nojo. Pois eu também me criei em casa sem luz, sem geladeira, sem televisão, sem banheiro sanitário. A primeira televisão que conheci era uma telefunken preto e branca, que corria a imagem e tinha que dar uns tapas nela de vez em quando prá parar de correr a imagem

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    1. Pois é uma coisa que lembrei também era a escassez de alimentos melhores como carne, velho churrasco era uma vez por ano e olhe lá. Agora todo fds se eu quiser eu faço.

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  10. Fala LI, que história ein mano, pensei por algumas coisas similares, e é bom contar essas histórias por aqui, pra geral ver que a situação melhor que vivemos hoje, não veio da noite para o dia, foi fruto de sacrifícios, dedicação e persistência. Parabéns e sucesso ai na jornada

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    1. Pois é Maromba o negócio é sempre correr atrás de melhorar.

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  11. Fala LI,

    TMJ amigo! Sua vida foi mais hard que a minha, sempre tive água, luz, energia, bairro super tranquilo.

    Por isto que você deve se esforçar e muito em busca da IF! Você já conseguiu muito, tá no caminho certo e sua família deve se orgulhar de você.

    Abração e presentei a gente com a parte 2 :)

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  12. Obrigado VDC, pode deixar que vou continuar.

    Vlw.

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  13. Ótimo texto. Aguardando continuação.

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  14. Bah! Me identifiquei muito com a tua história!

    Minha infância foi parecida, a violência era minha vizinhança kkkk.

    Foi morando em favela que eu aprendi tudo que eu não devo fazer, é uma escola em tempo real.

    Vou escrever sobre isso no meu blog também, vamos trocando figurinhas!

    Parabéns pelo texto e por levantar o assunto.

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  15. Senhores, primeiramente peço desculpas por utilizar esse canal para explicar que tive imprevistos quanto ao blog, haja vista que este foi suspenso temporariamente em decorrência de comentários ofensivos de anônimos que estão buscando desativar nosso reduto.

    Segundo, agradeço a colaboração e a presença de todos vocês e solicito encarecidamente que divulguem essa notícia.

    Estou buscando solucionar esse imprevisto. Desculpe o transtorno.

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