sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Com apenas um salário mínimo venceu na vida





O post de hoje é uma historia verídica de um homem trabalhador que me inspirou e certamente o fará com vocês também.


Na repartição em que trabalho tem um setor de atendimento ao público que é sempre revezado pelos servidores. O pessoal não gosta muito desse contato, pois lidar com pessoas em qualquer órgão estatal é um verdadeiro martírio tanto pra quem atende quanto quem é atendido.


O que acontece é que no geral as pessoas só querem ver o lado negativo do trabalho. Só reclamam e não tentam tirar vantagem na experiência compartilhada com o próximo.


Certa vez estava escalado para atender o público no setor. E chegou um senhor muito humilde com pouco mais de 50 anos, mas muito calejado pela vida, com roupas simples, chinelos de dedo, chapéu de palha e um grande sorriso. Ele trabalhava em uma prefeitura do interior como “capinador”. E estava próximo de aposentar, contudo trabalhava como um cão. Algumas vezes já o vi na sua labuta diária de baixo do sol escaldante do mês de janeiro. Com sua enxada ao lado em um movimento repetitivo e com tom de infindável.


Sempre quando vejo trabalhadores em serviço pesado sinto uma compaixão, pois normalmente não é uma opção e sim a falta dela. Famílias desestruturadas que não tiveram o devido conhecimento da importância da educação para passar aos descendentes.


Pois bem, voltamos ao Sô Zé. Ele tinha algumas solicitações a fazer. Para que eu pudesse o atender e resolver suas pendências eu precisava colher algumas informações pessoais e financeiras. O que me proporcionou um dedo de prosa com o simpático matuto.


Ele me falou que começou a trabalhar na roça plantando lavoura de hortaliças e com o tempo se viu forçado a mudar para a cidade. Chegando aqui foi trabalhar como ajudante de obras pesadas, sem qualquer documento e recebendo uma ninharia. Pouco tempo depois ficou sabendo que na prefeitura precisavam de pessoas na área de limpeza e manutenção e se candidatou. Fez uma prova de nível básico e foi efetivado.


O salário que sempre recebeu foi o mínimo, porém como era habituado a viver com pouco ele foi juntando o dinheiro para comprar um lote e então conquistar o sonho da casa própria. Foi então que nos anos 90 adquiriu seu primeiro terreno. Até bem localizado pelos dias de hoje, no entanto para época era uma parte afastada da cidade. Juntou mais algum dinheiro e conseguiu com muito esforço construir uma casinha simples. Contratou mão de obra de um pedreiro amigo e ele servia de servente, sempre nos horários de folga.


Sô Zé casou e teve dois filhos. Nunca estudou, só aprendeu a ler e escrever. Nunca teve carro, tão pouco tirou habilitação. Luxo jamais pensou em ter, talvez por isso do seu sucesso financeiro.  Contudo decidiu dar uma educação boa para os filhos. Antes da chegada de sua prole ele juntou mais dinheiro para construir no mesmo terreno outras duas casas para servir de renda extra, já que pensava em alugá-las.


Continuava a ganhar salário mínimo, porém já casado sua esposa também complementava a renda fazendo salgados por encomenda. Agora o dinheiro já era maior, pois a soma dele da esposa e duas casinhas alugadas dava para melhorar o padrão de vida. A maioria da população pensaria assim, porém ele não!


Mais uma vez na perseverança e com a vinda do primeiro filho conseguiu comprar mais um lote. Passou mais tempo e construiu 4 casas. Isso mesmo demorou 6 anos, mas saiu. Em 2007 já tinha 6 casas de aluguel e ganhando uma merreca para trabalhar no tempo sofrendo de todas as intempéries possíveis.


O atendimento se deu no de 2012 e Sô Zé conseguiu construir outras duas casas para dar de presente para os filhos. E continuou com suas 6 de rendimento, onde até já tinha alugado para o supervisor da secretária de obras, ou seja, o chefão da prefeitura. Que volta né. O Zé ninguém alugando imóvel para o patrão sem casa.


Hoje o Sô Zé com certeza já esta aposentado e curtindo sua vida tranqüila. Apesar de que duvido muito que parou de trabalhar, pois esse tipo de pessoa simplesmente não consegue. Mas agora pode dedicar mais tempo para fazer as atividades que queira.

16 comentários:

  1. Muito bacana, este tipo de história!

    As pessoas desanimam a começar a juntar por ser demorado, mas o caminho é este para quem quer conquistar a tranquilidade financeira de forma honesta.

    Quantos engravatados que ganham muito mais e moram de aluguel, dependentes do salário, apenas para passar a visão de serem pessoas de sucesso.

    A simplicidade tem lá suas vantagens, como neste caso ...

    Abraço

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  2. Pois é, gostei muito de conversar com esse senhor, um exemplo de vitória.

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  3. História fantástica, é exemplo para nós investidores.

    Aportes, paciência, vontade de ganhar mais dinheiro.Essa é a fórmula perfeita.

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  4. A parte de ele nunca ter tido carro acho que contou bastante também rs.

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  5. A vida simples foi o que tornou possível o desenvolvimento financeiro dele. Tem muitas histórias anônimas de pessoas de origem humilde que conseguiram conquistar patrimônios até de certa forma surpreendentes.
    Eu mesmo conheci pessoas com esse perfil. Só pra citar um exemplo, conheci dois irmãos piauienses que saíram jovens do Piauí para morar em São Paulo e a alguns anos atrás tinham um mercado de bairro bem montado e carros como Vectra etc. Pessoas que saíram da roça.
    Essas mudanças são sim possíveis, mas o que faz isso ser possível é a personalidade e o estilo de vida dessas pessoas.
    Fugindo um pouco do tema do post, o salário mínimo é lamentável. Como alguém pode ter uma certa qualidade de vida e alguma possibilidade real de desenvolvimento ganhando menos de 1K?
    Um órgão público como uma prefeitura deveria pagar mais que isso independente de qual seja a ocupação do funcionário, já que geralmente além do salário não oferecem benefício nenhum.

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    1. Bom exemplo Anon. Pois é, mas no geral não pagam mais que isso em prefeitura do interior. Se contar que muitas vezes o único empregador da região se trata do próprio município, assim para empregar muita gente tem que pagar pouco.

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  6. Cara você escreve bem, seu texto é leve, tem conteúdo, foge da mesmice e acrescenta muito à blogosfera. Lembra um pouco os posts do seu madruga. Continue assim....

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    1. Obrigado por me brindar com sua presença e participação Anon.

      Fiquei muito tempo só nos bastidores também até tomar coragem de expor minhas ideias. Esse retorno é muito válido e faz valer a pena o tempo dispendido para postar.

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  7. LI,

    Ótima história.

    Há algumas pessoas que conseguem certo sucesso na vida, mesmo que venha a ser tardio. Mas temos que entender que a vida é assim, você trabalha e poupa para ter alguma coisa no futuro, a humanidade fez isso - exceto os índios primitivos - durante milênios. Infelizmente, as pessoas estão impregnadas com a ideia de que devem ser felizes, e isso só é possível comprando as mesmas coisas que as "pessoas felizes" compram.

    O "Sô Zé" não tinha uma educação financeira sofisticada, se tivesse provavelmente conseguiria mais coisas ainda. Entretanto, conseguiu muito em relação aos seus semelhantes.

    Se tivéssemos, em nosso país, mais pessoas com essa mentalidade, trabalho-frugalidade-poupança-investimento, teríamos um país mais rico (mesmo em meio às burradas e sacanagens que o estado faz) e mais resiliente.

    Espero que o Sô Zé tenha passado bem os seus valores aos filhos, para que continuem o processo e conquistem mais ainda que o pai.

    Abraço!


    Anderson

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  8. Fala Anderson, bacana seu comentário. Dá pra perceber que é uma pessoa que tem a mente aberta e está na mesma caminhada que a minha.

    Sô Zé com toda certeza passou os ensinamentos aos filhos, porém não tenho tanta certeza se eles aproveitaram, pois querendo ou não conseguiram muito de mão beijada. Espero que deem orgulho ao pai.

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  9. "O que acontece é que no geral as pessoas só querem ver o lado negativo do trabalho. Só reclamam e não tentam tirar vantagem na experiência compartilhada com o próximo."

    Parei aqui, ninguém quer vantagens na experiência com o próximo, elas só querem ser atendidas e ter o problema resolvido, nada mais, e se não vêem parte boa deve ser porque não tem, ou você já saiu de uma loja de sapatos, por exemplo, depois de ser muitíssimo bem atendido reclamando?

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  10. Jovem entre no contexto e vejo que essa parte eu escrevi para os servidores e não para os atendidos. Viaja não.

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  11. Olá LawyerInvestidor, estou acompanhando seu blog e te adicionei no meu blogroll, pode me adicionar?.
    Gostei desse texto, lembra bastante a história de vida da minha mãe e dos meus tios, eram muito pobres e hoje venceram na vida, ainda sim de vida simples, mas próspera, hoje minha mãe diz que não sobrevive, "ela vive".

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  12. Olá,
    Cheguei no seu blog através dos amigos do "JapaPobre" e em vez de estudar Direito Adm estou aqui ha alguns minutos (acho que uns 30) tentando sair, mas.... Parabéns vc escreve muito bem, de forma leve e sem erros -posso até me inspirar para criar redações-.
    Amei este post, como exemplo que esforço e persistência é possível.
    Salvando agora o endereço do blog nos meus favoritos, terminando minhas 300 questões volto aqui, kkkk.

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  13. Obrigado pela presença amigo. Direito Adm é umas das matérias que mais gosto.

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